domingo, 28 de agosto de 2011

A cultura gaúcha da discórdia

Vou reproduzir abaixo matéria do jornal Zero Hora, distribuída pela Agenda 2020, que reproduz bem uma cultura bem típica do Rio Grande do Sul: a discórdia. Infelizmente, nosso Estado tem essa mania bem peculiar de sempre procurar o conflito.

Custo RS: Atmosfera de discórdia afeta economia
Zero Hora (28/8/2011) - Quando Ronald Krummenauer, secretário executivo da Agenda 2020, é chamado a falar em outros Estados, derruba a tese de que metade dos gaúchos é colorada e a outra, gremista.

– A divisão no Estado é de 90% a 10% – costuma dizer, sabendo que será interpretado como alguém que se expressa como torcedor de um dos times.

Depois de saborear o suspense, explica:

– São 45% antigremistas e 45% anticolorados, mais 10% divididos entre gremistas e colorados.

Identificar-se por oposição está na raiz do que Krummenauer aponta como a “cultura do derrotismo”: importa menos que seu time – ou tese – ganhe, e mais que o adversário perca.

O problema é que ser “anti” não marca só a atitude no esporte, mas na política, na cultura e no convívio cidadão.

Além de atrapalhar a construção de um projeto de Estado, substituído por sucessivos – e, com frequência, opostos – programas de governo, esse traço determina a existência de “diferentes governanças”, avalia o especialista.

– O Estado tem o maior número de iniciativas para o desenvolvimento, como nas áreas de qualidade, inovação e planejamento, mas isoladas.

Com a experiência de ter passado pelo governo, como secretário do Planejamento, associada a décadas de produção acadêmica, o economista Claudio Accurso diagnostica:

– Essa descontinuidade é uma tragédia. Cada vez que alguém chega no setor público, é como se tudo começasse ali. Não há história.

O que mais impressiona Accurso é que a disputa se dá em torno de recursos escassos, não apenas em finanças mas em capacidade de decisão:

– Quando a gente senta na cadeira de secretário se dá conta da limitação em que está metido.

Perscrutando as contas públicas do Estado há 20 anos, Darcy Francisco Carvalho dos Santos vê no conflito barulhento uma das causas pelas quais o Rio Grande do Sul não conseguiu superar o modelo de financiamento dos anos de inflação.

Enquanto atrasava o pagamento de fornecedores para aplicar o dinheiro em troca de gordos rendimentos para sustentar o investimento público, havia recursos para manter estradas e bons níveis educacionais e de atendimento à saúde.

Nos últimos anos, porém, é outra a sólida posição no ranking que relaciona a receita disponível e o volume de investimentos: a última entre os 27 Estados.

– Se a gente chegou a esse nível de despesa é porque cada parte quer pegar mais do que é possível – simplifica Darcy.

Filho de um gaúcho notável, que batiza o centro administrativo do Estado, mas nascido e criado no Rio de Janeiro, o economista Fernando Ferrari Filho confessa ter sofrido “choque cultural” ao desembarcar no Rio Grande do Sul na década de 80.

Constantes conflitos, acirrado embate ideológico e o hábito enraizado de se ver como um ente “à parte” do Brasil, avalia ele, criam um certo desconforto nos agentes que pensam em investir por aqui.

Para apaziguar ânimos e desatar nós, Krummenauer aposta no aumento da participação da sociedade civil organizada, como forma de contornar interesses corporativos e parciais.

Além da própria Agenda 2020, aponta a criação do Conselhão como um passo nessa direção. Accurso recomenda outros dois caminhos: definir prioridades, admitindo que não há recursos para fazer tudo, e adotar instrumentos de controle de gestão.

– Temos de sair do “eu penso”, “eu acho”. É muita conversa. O Estado tem de ser conduzido com indicadores objetivos – aconselha Accurso.

Nenhum comentário: